sábado, 21 de julho de 2012

Enfim, aprovadas novas drogas contra a obesidade

Duas novas drogas contra obesidade foram aprovadas nos EUA, nas últimas semanas: a Lorcaserina (BELVIQ®, Arena Pharmaceuticals) e a combinação Fentermina + Topiramato (QSYMIA® - inicialmente QNEXA -, Vivus), ambas inibidores do apetite.
Desde 1999 não havia qualquer nova aprovação de drogas contra obesidade pelo FDA (agência americana reguladora de medicamentos). Havia grande expectativa em relação a essas aprovações, pois, conforme eu escrevi neste blog há 2 anos, a agência as havia rejeitado, alegando a necessidade de mais informações sobre segurança. Após a proibição da sibutramina nos EUA em 2011, as únicas drogas disponíveis naquele país eram o orlistate e a fentermina. No Brasil, desde a proibição de femproporex, anfepramona e mazindol, temos somente o orlistate e, por enquanto, a sibutramina.


COMO ESSAS DROGAS AGEM?

A Lorcaserina é efetivamente uma droga nova, que funciona no sistema nervoso central como agonista ("ativador") dos receptores de serotonina 2C. No passado, agonistas de outro tipo de receptor de serotonina (2B) foram muito populares (Fenfluramina e Dexfenfluramina), porém foram proibidos em 1997 por estarem associados a lesões nas valvas cardíacas. Os estudos com a Lorcaserina não demonstraram risco cardíaco.

Já o Qsymia é uma nova formulação, de liberação prolongada, que combina drogas já comercializadas individualmente, a Fentermina e o Topiramato. A Fentermina é um clássico inibidor do apetite, estimulando a liberação de noradrenalina, enquanto o Topiramato é um medicamento para convulsões e enxaqueca que vinha sendo usado também para transtornos de compulsão alimentar. 



AS NOVAS DROGAS SÃO REALMENTE EFICAZES? 
QUAIS OS EFEITOS COLATERAIS?

Os resultados do Qsymia são bastante promissores. A perda de peso em média foi de cerca de 10%, com até 70% perdendo >5% do peso e até 50% perdendo >10% do peso., inclusive em pessoas com obesidade moderada a grave. Entretanto, os efeitos colaterais são frequentes (principalmente boca seca, constipação, insônia, perda do paladar e formigamentos) e muitos pacientes podem não tolerar, especialmente nos casos de perda de memória e sintomas depressivos.


O emagrecimento com Belviq é em média menor (parecido com sibutramina ou orlistate, em torno de 5%...), o que significa que alguns emagrecerão bastante enquanto muitos serão frustrados (menos de 50% perdem >5% do peso mas só 20% perdem >10% do peso)... Em compensação, o medicamento é melhor tolerado, com menos efeitos colaterais (dor de cabeça, náuseas, tontura).

A resposta a um tratamento anti-obesidade varia entre os indivíduos, e não há droga perfeita. Nas palavras do Arya Sharma (MD, PhD), pesquisador da Universidade de Alberta, Canadá: 
"If this drug makes it to market and proves to be safe, that's one step. I don't think there will be one drug that is effective and safe for everybody. We have about 100 different compounds for treating hypertension and 20 different compounds for treating diabetes. That's what it will probably take for obesity. We'll need more than 1 drug — we'll need 5, 10, 20 different drugs, and they'll all have to be tested to see which works best in whom and which has the best side-effect profile."
As empresas de ambos os produtos estão de olho em pacientes com diabetes, e ambos tem mostrado melhora no controle da glicemia junto com a perda de peso, tanto com Belviq como com Qsymia, inclusive com a possibilidade de remissão de diabetes em até dos 15% dos casos (diga-se, de passagem, eram casos de doença menos acentuada, em uso prévio apenas de medicação oral).


Um efeito positivo inegável é o aumento do valor das ações das companhias... Apostar em drogas anti-obesidade é bastante tentador, mas muito arriscado... Que vão vender, não há dúvida, mas nunca se sabe que sombras, fantasmas e efeitos colaterais aparecerão no futuro.



QUANDO AS NOVAS DROGAS ESTARÃO DISPONÍVEIS?

Nos EUA, o Qsymia está previsto para o segundo semestre de 2012 e o Belviq, para o início de 2013, ambos com venda rigorosamente controlada. Não há previsão de aprovação no Brasil.
Como a fentermina e o topiramato estão disponíveis individualmente, muitos médicos americanos já os combinam para tratar obesidade. 


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