O governo britânico pretende estender a possibilidade de cirurgia bariátrica a pacientes portadores de diabetes tipo 2 com obesidade leve, ou seja, com índice de massa corporal (IMC) entre 30 e 35 (1).
Atualmente, o sistema público de saúde da Grã-Bretanha oferece a cirurgia a ou com obesidade moderada (IMC entre 35 e 40) que tenham alguma doença grave associada ou a pacientes com obesidade grave (IMC maior do que 40).
Há muito tempo se sabe que o diabetes melhora com a cirurgia bariátrica em pacientes com IMC maior que 35. Nos últimos anos, novos estudos mostram que a cirurgia bariátrica é eficaz também no tratamento do diabetes em pacientes com IMC entre 30 e 35. Entre estes estudos se inclui uma pesquisa de nosso laboratório na UNICAMP, publicada na semana passada (2).
O Instituto Nacional de Saúde e Cuidados de Excelência da Grã-Bretanha (NICE, na sigla em inglês) tem a intenção de oferecer a cirurgia bariátrica a um maior número de pacientes com diabetes tipo 2. As novas regras recomendam que os médicos britânicos proponham a cirurgia bariátrica para todos aqueles com IMC maior que 35, e que avaliem, caso a caso, a opção de cirurgia para aqueles com IMC entre 30 e 35, e que não respondem aos tratamentos clínicos da doença, que incluem medicamentos e mudanças no estilo de vida.
Estima-se que mais 400 mil britânicos portadores de diabetes tipo 2 poderiam receber a recomendação imediata para cirurgia devido ao IMC maior que 35, e que esse número saltaria para mais de 800 mil ao incluir aqueles com IMC maior que 30.
Espera-se que somente uma parcela destes pacientes efetivamente será operada - algo em torno de 20 mil por ano. Atualmente são realizadas cerca de 8 mil cirurgias bariátricas por ano na Grã-Bretanha.
O Instituto Nacional de Saúde está convencido de que conseguirá reduzir os custos com os cuidados com o diabetes, que representam cerca de 10% do total de gastos atuais do órgão. Entretanto, há duras críticas a essa decisão, incluindo dúvidas sobre o custo-benefício e o temor de que o sistema de saúde não dará conta de atender à demanda de cirurgias. Há quem defenda que o dinheiro seria melhor empregado em programas preventivos para redução de peso, que, por sua vez, tem custo-benefício questionável pois estão propensos a falhas em médio e longo prazo.
Não há dúvida de que a maioria dos pacientes obesos com diabetes tipo 2 que se submeterem a cirurgia bariátrica serão beneficiados. Por outro lado, questiona-se se cabe ao governo o financiamento deste tipo de tratamento para pacientes com obesidade leve. O caminho está na seleção criteriosa dos pacientes, para qualquer IMC, estabelecendo prioridades conforme a gravidade das comorbidades.
1. BBC - http://www.bbc.com/news/health-28246641
2. Fellici AC, Lambert G, Lima MM, Pareja JC, Rodovalho S, Chaim EA, Geloneze B. Surgical Treatment of Type 2 Diabetes in Subjects with Mild Obesity: Mechanisms Underlying Metabolic Improvements. Obes Surg. 2014 Aug 8. [Epub ahead of print]
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